“A Substância”, dirigido pela visionária Coralie Fargeat e protagonizado pelas brilhantes Demi Moore e Margaret Qualley, é um mergulho profundo e perturbador nas águas turvas da obsessão pela juventude e beleza. Através da história de uma celebridade que busca desesperadamente reverter os cruéis sinais do tempo com uma substância misteriosa, o filme nos confronta com temas como fama, consumismo desenfreado e a busca incessante pela perfeição em um mundo obcecado pela aparência.
Atenção: contém spoilers!
Uma Narrativa Visualmente Rica e Perturbadora
O filme se destaca por sua narrativa visualmente rica e perturbadora, com poucos diálogos e um foco intenso nas ações solitárias e angustiantes das personagens. A ausência de diálogos transforma o filme em uma vitrine cruel das vidas de Elizabeth e Sue, onde suas ações e interações com o cenário opressor revelam seus pensamentos mais sombrios e desejos mais profundos.
A montagem do filme, com seus cortes precisos e planos detalhados, cria uma atmosfera de mistério e intriga crescente. O telespectador sente incômodo em diversos momentos da obra, onde o desconforto é apresentado como forma de reflexão. Cada cena é como uma peça de um quebra-cabeça macabro, revelando gradualmente a complexidade da história e os segredos obscuros que se escondem por trás da busca pela perfeição.
Tempo e Espaço Distorcidos: Um Reflexo da Obsessão
“A Substância” brinca com a noção de tempo de forma perturbadora, apresentando uma estética que mistura elementos de diferentes décadas, criando uma sensação de estranheza e deslocamento. Essa ambiguidade temporal reflete a natureza cíclica da moda e a busca incessante pela novidade, que aprisiona as personagens em um ciclo vicioso de auto-obsessão.
O filme também utiliza o espaço de forma simbólica e opressora, com a casa de Elizabeth se transformando em uma vitrine de sua própria obsessão doentia pela perfeição. As janelas de seu apartamento a conectam a um mundo inatingível, onde Sue representa o ideal de beleza e sucesso, mas também a personificação de seus maiores medos e inseguranças. No fim, nunca está bom o suficiente. Bonita o suficiente. “Gostosa” o suficiente. Por que a aparência importa mais do que a essência, os valores e a personalidade? Essa é uma das reflexões que o filme aborda.

Uma Crítica Feroz à Cultura da Perfeição
Através da jornada perturbadora de Elizabeth, o filme tece uma crítica feroz à cultura da perfeição e à pressão avassaladora para se manter jovem e relevante em um mundo que idolatra a aparência. A busca pela validação do outro se torna mais importante do que a aceitação de si mesmo. E se voltássemos no tempo, para a época em que não haviam espelhos? Será que a nossa imagem teria a mesma importância?
A personagem de Demi Moore representa a luta desesperada para manter o status e a relevância em um mundo cruel e implacável, que descarta aqueles que não se encaixam nos padrões irreais de beleza.
“A Substância” nos convida a refletir sobre nossa própria obsessão pela perfeição e o preço que estamos dispostos a pagar por ela. O filme nos lembra que a verdadeira beleza reside na aceitação de nós mesmos, com todas as nossas imperfeições, e que a busca incessante pela perfeição é uma armadilha que nos aprisiona em um ciclo de sofrimento e autodestruição.
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Reflexões Pessoais
É impossível agradar a todos ao mesmo tempo. Sempre vai ter alguém para apontar o dedo e criticar. Então por que deveríamos nos importar tanto com a opinião alheia? A comparação, o julgamento e a crítica cruel não nos leva a lugar algum. Nosso corpo é apenas uma capa que protege tudo de importante que armazenamos dentro. Senso estético é discutível e cada um tem o seu. Passamos a vida infelizes, buscando por uma incessante perfeição que é inalcançável. Perdemos muito tempo com futilidades como nossa aparência e a dos outros, porque não temos problemas reais para nos ocupar.
E quais seriam os problemas reais? Aquilo que é realmente necessário para nossa sobrevivência: comida, água e um lugar seguro. Nós resolvemos estas necessidades básicas, ou pelo menos a maioria dos que leiem este texto, ao apresentarmos soluções como supermercados e construções de moradias. Se estes problemas básicos são supridos, nós ocupamos nossa mente e nosso tempo com problemas irreais. Se olharmos através da perspectiva de que a maioria dos nossos problemas não são tão relevantes assim, nossa ansiedade diminui e nos concentramos no que realmente importa: quem realmente somos.
Por um lado, nós somos poeira cósmica, apenas “um ponto pálido azul” no meio da infinitude que é o Universo. Se considerarmos mais enxergar através das lentes mais distantes de nós, tanto do macrocosmos quanto do microcosmos, podemos perceber que, no fim, é tudo uma questão de ponto de vista. Escolhemos perder nosso tempo, energia e felicidade ao invés de focar que somos responsáveis por nossos pensamentos e ações.
Voltando ao filme, podemos analisar que, tanto Elizabeth quanto Sue não se colocam em outras perspectivas, algo que deveria ser uma tarefa inerente à cada indivíduo. Elas escolhem viver a realidade onde a beleza exterior é mais importante do que qualquer outra coisa. E isso nos faz refletir, quantas pessoas que conhecemos agem assim?
A verdade é que não teremos uma substância, como a do filme, para termos uma “melhor versão”. Mas, quando nos dermos conta de que todos os dias temos a escolha de sermos nossa melhor versão, nossas ações serão diferentes. Não é preciso tomar uma substância, fazer um procedimento estético e nem comprar algo novo. Não é preciso de nada externo. Para sermos nossa melhor versão, as atitudes são de dentro para fora. Apenas você pode escolher como se comunicar com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo.
Lembre-se: a percepção que os outros têm de você não te define. O que te define é quem você realmente é, e não o que as pessoas imaginam de você.
Curiosidades Obscuras sobre “A Substância”
- A transformação de Demi Moore: Para interpretar Elizabeth, Demi Moore passou por uma transformação física e emocional intensa, explorando os limites da obsessão pela beleza.
- A dualidade de Margaret Qualley: Margaret Qualley entrega uma performance hipnotizante como Sue, personificando o ideal de beleza e sucesso, mas também revelando as camadas sombrias por trás da perfeição.
- A visão de Coralie Fargeat: A diretora Coralie Fargeat construiu uma narrativa visualmente rica e perturbadora, utilizando simbolismos e metáforas para explorar os temas do filme de forma impactante.
- A trilha sonora inquietante: A trilha sonora do filme, com seus tons sombrios e melancólicos, intensifica a atmosfera de mistério e suspense, nos transportando para o mundo perturbador de “A Substância”.
- A maquiagem e os efeitos visuais: A equipe de maquiagem e efeitos visuais criou um trabalho impressionante, transformando Demi Moore e Margaret Qualley em representações da obsessão pela perfeição e seus efeitos colaterais grotescos.
Compartilhe suas reflexões sobre “A Substância” nos comentários! O que você achou da crítica à cultura da perfeição? Quais cenas te impactaram mais? Para mais reflexões, segue o vídeo que foi referência nas minhas observações: